A CORRUPÇÃO METAFÍSICA DE NOSSA FILOSOFIA
Ao examinar a paisagem desértica da filosofia de seu tempo, o filósofo Nietzsche desabafou: “ “[...] a filosofia está corrompida pelo sangue dos teólogos. O pastor protestante é o avô da filosofia alemã (Nietzsche, O Anticristo, p.16). Para o filósofo Nietzsche a filosofia de seus contemporâneos era uma “filosofia branda”, amansada pelo instinto tendencioso dos velhos teólogos que só pensavam nas coisas do “céu”. Infelizmente, algo muito parecido ocorre ainda no Brasil. Semelhante aos idealistas alemães, nossos pensadores estão profundamente compromissados com uma herança teologal imanifesta. Costumam evitar discussões sobre o ateísmo, tal assunto, mesmo dentro de nossas mais renomadas universidades, é ainda tratado com uma estranha “apatia filosófica”.
Por que será que grande parte de nossos intelectuais evitam ainda problematizar este tema? Será que o fato desses “filósofos” estarem empregados em universidades confessionais (religiosas), colabora para o fortalecimento do silêncio desses? Por que será que as dissertações e teses de nossas universidades comumente ignoram tal assunto tâo relevante da contemporaneidade? No período em que estive cursando o meu mestrado em Ciências de Religião, numa das maiores universidades do país( Mackenzie), pude perceber como a nossa herança religiosa pesa em certas áreas do conhecimento acadêmico.
Numa turma composta por cerca de vinte e cinco (25) mestrandos, eu era o único ateu. Muitos de meus professores, bem como alguns de meus colegas de sala mais próximos, confessavam recorrentemente não entender qual a motivação que levaria um ateu ao estudo das religiões. Em muitos momentos, tive que me desgastar explicando, que o estudo científico do fenômeno religioso nada tem a ver com uma “crença religiosa”, daí o fato de ter me proposto a estudar Ciências de Religião, e não Teologia.
Porém, logo ficou mais evidente o motivo secreto de estranhamento de meus pares. Descobri que o curso em questão, não estava profundamente interessado em fazer uma genuína "ciência" das religiões, o que queriam, sutilmente, era oferecer uma base apologètica mais respeitável academicamente para suas desgastadas crenças metafísicas. Durante os dois anos que estive na universidade para conclusão dos meus créditos, posso contar nos dedos as escassas referências feitas a autores como Feuerbach, Nietzsche, Marx, Freud, entre outros pensadores malditos. Estes autores eram flagrantemente evitados e ridicularizados, ou, pior, eram transformados em “bons cristãos”(prontos, para frequentar a missa!), nas bocas “doutas” de seus tendenciosos interpretantes. Em outras palavras, o estudo “científico” do fenômeno religioso no Brasil está ainda profundamente afetado por algumas disposições religiosas inconscientes. Não aprendemos ainda que o fenômeno religioso não existe em si, é profundamente humano.
Por isso, os mesmos critérios lógicos que usamos para estudar outras áreas acadêmicas, devem nortear o estudo das religiões. Na verdade, nada pode levar-nos mais próximos do ateísmo, do que o estudo científico da religião. Porém, o fato de descobrirmos que Deus e a religião são invenções humanas, não deve desestimular o pesquisador sincero, afinal, os motivos antropológicos, sociológicos, psicológicos, entre outras tantas variáveis humanas, são o bastante para justificar uma investigação mais imparcial sobre este antigo e persistente fenômeno humano. Prof. Marcos de Oliveira /Leia o livro AUTÓPSIA DO SAGRADO- Compre online ou fisicamente na livraria Martins Fontes.
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