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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O Argumento da Prova teológica da Existência de Deus - Bertrand Russel


O passo seguinte nos conduz  ao argumento da prova teológica da existência de Deus. Vós conheceis tal argumento : tudo no mundo é feito justamente de modo a que possamos nele viver, e se ele fosse, algum dia, um pouco diferente, não conseguiríamos viver nele.

Eis aí o argumento da prova teológica da existência de Deus. Toma, ele, as vezes, uma forma um tanto curiosa. Afirma-se , por exemplo, que as lebres tem rabos brancos a fim de que possam ser facilmente atingidas por um tiro. Não sei o que as lebres pensariam desse destino.

É um argumento fácil para paródia. Todos vós conheceis a observação de Voltaire, de que o nariz foi, evidentemente, destinado ao uso dos óculos. Essa espécie de gracejo acabou por não estar tão fora do alvo como poderia ter parecido no século XVIII, pois que, desde o tempo de Darwin, compreendemos muito melhor porque os seres vivos são adaptados ao meio em que vivem. Não é o seu meio que se foi ajustando aos mesmos, mas eles é que foram se ajustando ao meio, e isso é que constituí a base da adaptação.

Não há nisso, prova alguma de desígnio divino.

Quando se chega a analisar o argumento teológico de prova da existência de Deus, é sumamente surpreendente que as pessoas possam acreditar que este mundo, com todas as coisas que nele existem, com todos os seus defeitos, deva ser o melhor mundo que a onipotência e a onisciência tenham podido produzir em milhões de anos.


Achais, acaso, que se vos fossem concedidas onipotência e onisciência, além de milhões de anos para que pudésseis aperfeiçoar o vosso mundo, não teríeis podido produzir nada melhor do que  a Ku-Klux-Klan ou os facistas¿ Com milhões de anos, será que Deus não poderia ter criado um plano melhor do que o de Lucifer vir a terra e criar o mal que nela hábita¿ Se Deus poderia ter feito algo melhor e  não o fez, ou ele criou este mundo por piada e humor, deleite próprio, ou ele não é onipotente.

Ademais, se aceitais as leis ordinárias da ciência, tereis de supor que não só a vida humana como a vida em geral neste planeta se extinguirão em seu devido curso: isso constitui uma fase da decadência do sistema solar. Em certa fase de decadência, teremos a espécie de condições de temperatura, etc., adequadas ao protoplasma, e haverá vida, durante breve tempo, na vida do sistema solar. Podeis ver na lua a espécie de coisa a que a terra tende: algo morto, frio e inanimado.

Dizem-me que tal opinião é depressiva, e as vezes, há pessoas que nos confessam que, se acreditassem nisso, não poderiam continuar vivendo. Em outras palavras, desejam viver algo que lhes conforte do que viver com o caos da realidade que nos cerca. Não acrediteis no que dizem, pois não passa de tolice.

De fato, ninguém se preocupa muito com o que irá acontecer daqui a milhões de anos. Mesmo que pensem que estão se preocupando muito com isso, não estão, na realidade estão fazendo outra coisas senão enganando a si próprias.


Estão preocupadas com algo muito mais mundano – talvez mesmo apenas com sua má digestão. Na verdade, ninguém se torna realmente infeliz ante a ideai de algo que ira acontecer a este mundo daqui a milhões de milhões de anos. Por conseguinte, embora seja melancólico supor-se que a vida irá se extinguir (supondo, ao menos, que se possa dizer tal coisas, embora as vezes, quando observo o que as pessoas fazem de suas vidas, isso me pareça quase um consolo) isso não é coisa que tome a vida miserável. Faz apenas com que a gente volte a atenção para outras coisas.
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Item Reviewed: O Argumento da Prova teológica da Existência de Deus - Bertrand Russel Rating: 5 Reviewed By: Gabriel Orcioli