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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Cristianismo e o Sexo - Bertrand Russel


A pior características da religião Cristã, é a sua atitude para com o sexo – uma atitude tão mórbida e tão contrária a natureza que só pode ser compreendida quando considerada em relação com a enfermidade do mundo civilizado ao tempo em que o Império Romano estava em decadência.
Ouvimos dizer, as vezes, que o cristianismo melhorou a condição social das mulheres. Está é uma das mais grosseiras deturpações da história que se possa fazer.

As mulheres não podem desfrutar de uma posição tolerável numa sociedade em que se considere da máxima importância os fatos de elas não deverem infringir um código moral muito rígido. As monjas sempre consideraram a mulher, antes de mais nada, como tentadora; sempre pensaram nela como a inspiradora de desejos impuros.

A Igreja ensinou, e ainda hoje ensina, que o melhor é a virgindade, mas que é permissível o casamento aqueles que a julgam impossível. ‘É melhor casar do que abrasar’, diz brutalmente, São Paulo. Tornando o Casamento indissolúvel e eliminando todo o conhecimento de Ars Amandi, a Igreja fez o que pode no sentido de assegurar que a única forma de relação sexual permitida causasse muito pouco prazer e muitíssimo sofrimento. A oposição ao controle da natalidade tem, na verdade, o mesmo motivo: se a mulher tem um filho por ano, até morrer de exaustão, não é de se supor que encontre muito prazer de sua vida de casada. Por conseguinte, o controle de natalidade deve ser desaconselhado.

A concepção do pecado estreitamente ligada a ética cristão é uma concepção que causa enorme dano, pois que proporciona aos indivíduos uma saída para o seu sadismo, a qual é por eles considerada não só legítima como, até mesmo, nobre. Tomemos, por exemplo, a questão da prevenção da sífilis. Sabe-se que, mediante precauções tomadas com antecedência, o perigo de contrair-se tal enfermidade pode tornar-se insignificante. Os cristãos porém, fazem objeções a divulgação do conhecimento desse fato, uma vez que afirmam que é bom que os pecadores sejam castigados.

Afirmam ser isso tão bom, que estão mesmos dispostos a permitir que o castigo se estenda as esposas e aos filhos dos pecadores. Há no mundo, no momento atual, muitos milhares de crianças que sofrem de sífilis congênita, as quais jamais teriam nascido não fosse o desejo cristão de fazer com que os pecadores paguem pelos seus pecados. Não posso compreender como é que doutrinas conducentes a tão diabólicas crueldade possam ser consideradas como tendo qualquer efeito benéfico sobre a moral.
Não é somente quanto ao que se refere ao procedimento sexual, mas também quanto ao que diz respeito ao conhecimento relativo aos assuntos sexuais, que a atitude dos cristãos é perigosa para o bem-estar humano. Toda pessoa que se deu ao trabalho de estudar a questão com espirito imparcial sabe que a ignorância artificial quanto a assuntos sexuais, que os cristãos ortodoxos tentam impor aos jovens, é extremamente perigosa para a saúde física e mental, causando aos olhos que colhem o seu conhecimento por meio de uma conversa ‘imprópria’, como acontece com a maioria das crianças, a convicção de que o sexo é, por si próprio, algo indecente e ridículo.

Não creio que possa haver qualquer defesa para a opinião de que o conhecimento seja, de algum modo, indesejável. Eu não poria barreiras quanto a aquisição de conhecimento por parte de alguém em qualquer idade. Mas, no caso do conhecimento sobre assuntos sexuais, já argumentos muito mais poderosos a seu favor do que no caso da maior parte dos outros conhecimentos.

É muito menos provável que uma pessoa aja sensatamente sendo ignorante do que sendo instruída, e é ridículo dar-se aos jovens um sentimento de pecado apenas porque sentem a curiosidade natural por uma questão importante.

Todo menino se interessa por trens. Suponhamos lhe disséssemos que é pecado sentir interesse por trens; suponhamos que mantivéssemos os seus olhos vendados sempre que ele estivesse num trem ou numa estação ferroviária; suponhamos que guardássemos um mistério impenetrável quanto aos meios pelos quais era ele transportado de um lugar para o outro.

O resultado não seria que ele deixasse de se interessar por trens; ficaria, pelo contrário, mais interessado do que nunca, mas experimentaria um mórbido sentimento de pecado, pois que tal interesse lhe havia sido apresentado como impróprio.

Qualquer menino de inteligência ativa poderia, desse modo, ser transformado, em maior ou menor grau, num neurastênico. É precisamente isso que se fa quanto ao que se refere ao sexo; mas, como o sexo é mais interessante do que trens, os resultados são muito piores.

Quase todo adulto, numa comunidade cristã, é mais ou menos doente de nervos, em consequência do tabu acerca do conhecimento sexual quando ele ou ela eram jovens. E o senso de pecado, assim artificialmente implantado, é mais tarde, na vida adulta, uma das causas de crueldade, timidez e estupidez. Não há base racional de espécie alguma para se conservar uma criança ignorante do que quer que ela possa desejar saber, sobre o sexo ou sobre qualquer outro assunto. E jamais teremos uma população sã enquanto não se reconhecer tal fato na educação infantil, o que é impossível enquanto as Igrejas puderem controlar a politica educacional.

Deixando-se de lado estas objeções relativamente pormenorizadas, é claro que as doutrinas fundamentais do cristianismo exigem, antes de ser aceitas, uma grande dose de perversão moral. O mundo, segundo nos dizem, foi criado por um Deus não só bom, como onipotente. Antes de ele haver criado o mundo, previu toda dor e toda a miséria que o mesmo iria conter. E ele, pois, responsável por tudo isso. É inútil argumentar-se que o sofrimento, no mundo, é devido ao pecado. O sofrimento no mundo, se Deus existisse, seria provido dEle mesmo.

Em primeiro lugar, não é o pecado que faz com que s rios transbordem ou que os vulcões entrem em erupção. Mas, mesmo que fosse verdade, isso não faria diferença. Se eu fosse gerar uma criança sabendo que essa criança iria ser uma homicida maníaco, eu seria responsável pelos seus crimes. Se Deus sabia de antemão os pecados de que cada homem seria culpado, Ele foi claramente responsável por todas as consequências de tas pecados, ao resolver criar o homem.

O argumento cristão habitual é que o sofrimento, neste mundo, constitui uma purificação do pecado, sendo, assim, uma boa coisa. Tal argumento não passa, naturalmente de uma racionalização do sadismo; seja, porém, como for, é um argumento muito fraco.

Eu convidaria qualquer cristão a que me acompanhasse ao pavilhão infantil de um hospital, a fim de observar o sofrimento que é lá suportado, para ver se continuaria a afirmar que aquelas crianças eram tão corruptas, moralmente, a ponto de merecer o que estavam sofrendo.


Para que possa dizer tal coisa, um homem tem de destruir a si mesmo todos os sentimentos de misericórdia e de compaixão. Deve, em suma, tornar-se tão cruel como o Deus em que crê. Homem algum que acredite ser para o bem tudo o que acontece neste mundo de sofrimento poderá manter intactos os seus valores morais, á que está sempre encontrando escusas para a dor e miséria. 
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Item Reviewed: Cristianismo e o Sexo - Bertrand Russel Rating: 5 Reviewed By: Gabriel Orcioli