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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Gabriel Orcioli O Argumento da Lei Natural - Bertrand Russel


Há, a seguir um argumento muito comum relativo a lei natural. Foi esse um argumento predileto durante todo o século XVIII, principalmente devido a influência de Sir Issac Newton e de sua cosmogonia.

As pessoas observavam os planetas a girar em torno do sol segundo a lei da gravitação e pensavam que deus dera uma ordem a tais planetas para que se movessem desse modo particular – e que era por isso que eles o faziam. Esse era certamente, uma explicação simples e convincente, que lhe poupava o trabalho de procurar quaisquer novas explicações paraa  lei da gravitação. Hoje em dia explicamos a lei da gravitação de um modo um tanto complicado, apresentado por Einstein.

Não me proponho fazer aqui uma palestra sobre a lei da gravitação tal como foi interpretada por Einstein, pois que também isso exigiria algum tempo; seja como for, já não temos a mesma espécie de lei natural que tínhamos no sistema newtoniano, onde, por alguma razão, que ninguém podia compreender, a natureza agia de maneira uniforme. Vemos, agora que muitas coisas que considerávamos como leis naturais não passam, na verdade, de convenções humanas.

Sabeis que mesmo nas mais remotas profundezas do sistema estelar uma jarda tem ainda três pés de comprimento. Isso constituí, sem dúvida, fato notabilíssimo, mas dificilmente poderíamos chama-lo de lei da natureza. E, assim, muitíssimas outras coisas antes encaradas como leis da natureza são dessa espécie.

Por outro lado, qualquer que seja o conhecimento a que possamos chegar sobre a maneira de agir dos átomos, veremos que eles estão muito menos sujeitos as leis do que as pessoas julgam, e que as leis a que a gente chega sã médias estatísticas exatamente da mesma classe das que ocorreriam por acaso. Há, como todos nós sabemos, uma lei segundo a qual, no jogo de dados, só obteremos dois seis apenas uma vez em cerca de trinta e seus lances, e não encaramos tal fato como uma prova de que a queda dos dados é regulada por um desígnio; se, pelo contrário, os dois seis saíssem todas as vezes, deveríamos pensar que havia um desígnio.

As leis da natureza são dessa espécie, quanto a que se refere a muitíssimas delas, são médias estatísticas como as que surgiriam das leis do acaso – e se isso toma todo este assunto das leis naturais muito menos impressionante do que em outros tempos. Inteiramente a parte disso, que representa um estado momentâneo da ciência que poderá mudar amanhã, toda a ideia de que as leis da naturais subentendem um legislador é devida à confusão entre as leis naturais e humanas.

As leis humanas são ordens para que procedamos de certa maneira, permitindo-nos escolher se procedemos ou não da maneira indicada; mas as leis naturais são uma descrição de como as coisas de fato procedem e, não sendo senão uma mera descrição do que elas de fato fazem, não se pode arguir que deve haver alguém que lhes disse para que assim agissem, porque, mesmo supondo-se que houvesse, estaríamos diante da pergunta ‘porque Deus lançou justamente essas leis naturais e não outras¿’. Se dissermos que Ele o fez por Seu próprio prazer, sem qualquer razão para tal, verificaremos, então, que há algo que não está sujeito a lei e, desse modo, se interrompe a nossa cadeira de leis naturais.

Se dissermos, como fazem os teólogos mais ortodoxos, que em todas as leis feitas por Deus Ele tinha uma razão para dar tais leis em lugar de outras – sendo que a razão, naturalmente, seria a de criar o melhor universo, embora a gente jamais pensasse nisso ao olhar o mundo – se havia uma razão para as leis ministradas por Deus, então o Próprio Deus estava sujeito a essa lei e, por conseguinte, não há nenhuma vantagem em se apresentar Deus como intermediário.

Temos aí realmente, uma lei exterior e anterior aos editos divinos, e Deus não serve então ao nosso propósito, pois que ele não é o legislador supremo. Em suma todo esse argumento acerca da lei natural já não possui nada que se pareça com o seu vigor de antigamente.


Os argumentos sobre a existência de Deus mudam de caráter a medida que o tempo passa. Eram, a principio argumentos intelectuais, rígidos, encerrando certas ideais errôneas, bastante definidas. Ao chegarmos aos tempos modernos, essas ideias se tornam intelectualmente menos respeitáveis e cada vez mais afetas por uma espécie de moralizadora imprecisão.
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