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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O Problema Moral de Cristo - Bertand Russel


Chega-se, a seguir, as questões morais. Há, a meu ver, um defeito muito sério no caráter moral de Cristo, e isso porque Ele acreditava no inferno. Quanto a mim, não acho qualquer pessoa que seja, na realidade, profundamente humana, possa acreditar no castigo eterno. Cristo, certamente, tal como e descrito nos Evangelhos, acreditava no castigo eterno, e a gente encontra, repetidamente, uma fúria vinditiva contra os que não davam ouvidos a seus ensinamentos – atitude essa nada incomum entre pregadores, mas que de certo modo, se afasta da excelência superlativa.

Não encontrareis, por exemplo, tal atitude em Sócrates. Encontramo-la bastante suave e cortês para com aqueles que não queriam ouvi-lo – e, na minha opinião, é muito mais digno de um sábio adotar tal atitude do que mostrar-se indignado. Provavelmente vos lembrareis das coisa que Sócrates disse quando estava agonizando, bem como das coisas que em geral dizias as pessoas que não concordavam com ele.

Vereis que, nos Evangelhos, Cristo disse: ‘Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno¿’. Isso foi dito a gente que não gostava dos seus ensinamentos. Esse não é, realmente, na minha opinião, o melhor tom, e há muitas dessas coisas acerca do inferno. Há, por certo, o texto familiar acerca do pecado contra o espirito Santo:

‘Quem falar contra o Espirito Santo não será perdoado, nem neste século nem no futuro’. Este texto causo indizível infelicidade no mundo, pois que toda espécie de criatura imaginava haver peado contra o Espirito Santo e achava que não seria perdoada nem neste mundo, nem no outro. Não me parece, realmente, que uma pessoa dotada de um grau adequado de bondade em sua natureza teria posto no mundo receios e terrores dessa espécie.

Diz Cristo: ‘O Filho do Homem enviará os seus anjos, e tirarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes’. E continua a referir-se aos lamentos e ao ranger de dentes. Isso aparece em um versículo e fica bastante evidente ao leitor que há um certo prazer na contemplação dos lamentos e do ranger de dentes, pois que, do contrário, isso não ocorreria com frequência.

Vós todos, vos lembrais certamente, da passagem acerca das ovelhas e das cabras; de como, na segunda vinda, a fim de separar as ovelhas das cabras, irá Ele dizer as cabras: ‘Afastai-vos de mim, ó amaldiçoadas, e lançai-vos no fogo eterno’. E prossegue: ‘E estas mergulharão no fogo eterno’. 

Depois, torna a dizer: ‘Se a tua mão direita te serve de escândalo, corta-a, e lança-a para longe de ti; porque é melhor para ti que se perca um de terus membros, do que todo teu corpo seja lançado no inferno, no fogo que não será jamais aplacado, onde os veres não morrem e o fogo não é aplacado’.

Repete isso também muitas vezes . Devo dizer que considero toda esta doutrina- a de que o fogo do inferno é um castigo para o pecado – como uma doutrina de crueldade. É uma doutrina que pôs a crueldade no mundo e submeteu gerações a uma tortura cruel -  e o Cristo dos Evangelhos, se pudermos aceita-lo como os seus cronistas O representam, teria certamente, de ser considerado, em parte, responsável por isso.

Há outras coisas de menor importância. Há, por exempli, a expulsão dos demônios de Gerasa, onde certamente, não foi muito bondoso para com os porcos, fazendo com que os demônios neles entrassem e se precipitassem ao mar pelo despenhadeiro. Deveis Lembrar-vos de que Ele era onipotente e teria podido simplesmente fazer com que os demônios fossem embora, mas Ele prefere fazer com que entre nos porcos.


Há ainda, a curiosa história da figueira, que sempre me deixa um tanto intrigado. Vós vos lembrais do que aconteceu com a figueira. ‘Pela manhã, quando voltava para a cidade, teve forme. E, vendo uma figueira junto do caminho, aproximou-se dela; e não encontrou nela senão folhas, e disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti’. E Pedro disse-lhe: ‘Vê, Mestre: a figueira que amaldiçoaste secou’.  Essa história é muito curiosa, pois que aquela não era  a estação de figos e, realmente, não se podia censurar a árvore. Quanto a mim, não me é possível achar que, em questão de sabedoria ou em questão de virtude, Cristo permaneça tão alto como certas outras figuras históricas que conheço. Nesses sentidos, eu colocaria Buda e Sócrates acima dele.
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Item Reviewed: O Problema Moral de Cristo - Bertand Russel Rating: 5 Reviewed By: Gabriel Orcioli