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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Os Argumentos Morais a favor da deidade - Bertrand Russel


Chegamos agora, a uma nova fase, na qual referiremos ao que os teístas fizeram, intelectualmente, com os seus argumentos, e topamos com aquilo a que se chama de os argumentos morais quanto a existência de Deus. Vós, todos sabeis, por certo, que costumava haver, antigamente, três argumentos intelectuais a favor da existência de Deus, os quais foram todos utilizados por Immanuel Kant em sua Crítica da Razão Pura; mas, logo depois de haver utilizado tais argumentos, inventou ele um novo, um argumento moral, e isso o convenceu inteiramente.

Kant era como muita gente: em questões intelectuais, mostrava-se cético, mas em questões morais acreditava implicitamente nas máximas hauridas no colo de sua mãe. Eis aí um exemplo daquilo que os psicanalistas tanto ressaltam: a influência imensamente mais forte de nossas primeiras associações do que das que se verificam mais tarde.

Kant, como digo, inventou um novo argumento moral quanto a existência de Deus, e o mesmo, em formas várias, se tornou grandemente popular durante o século XIX. Tem hoje, toda a espécie de formas. Uma delas é a que afirma que não haveria o bem e o mal a menos que Deus existisse.
Não estou no momento interessado, em saber se há ou não uma diferença entre o bem e o mal. Isso é outra questão. O ponto em que estou interessado é que, se estamos tão certos de que existe uma diferença entre o bem e o mal, nos achamos, então na seguinte situação: é essa diferença devida ao fiat de Deus ou não¿

Se é devida ao fiat de Deus, então não existe ,  para o Próprio Deus, diferença entre o bem e o mal, e não constituí mais uma afirmação significativa o dizer-se que Deus é bom. Se dissermos, como o fazer os teólogos, que Deus é bom, teremos então de dizer que o bem e o mal possuem algum sentido independente do fiat de Deus, porque os fiats de Deus são bons e não mais independente do mero fato de ele os haver feito.


Se dissermos tal coisa, teremos então de dizer que não foi apenas através de Deus que o nem e o mal passaram a existir, mas que são, em sua essência, logicamente anteriores a Deus. Poderíamos, por certo, se assim o desejássemos, dizer que havia uma deidade superior que dava ordens ao Deus que fez este mundo, ou então poderíamos adotar o curso seguindo por certos agnósticos – curso que me pareceu, com frequência, bastante plausível segundo o qual, na verdade, o mundo que conhecemos foi feito pelo diabo num momento em que Deus não estava olhando. 
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Item Reviewed: Os Argumentos Morais a favor da deidade - Bertrand Russel Rating: 5 Reviewed By: Gabriel Orcioli